quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bruxa das Brumas



Anualmente, próximo ao dia das bruxas, Kátia e os amigos Bruno, Alan e Alex decidiram aproveitar um “fim de semana de três dias” da universidade para cumprir uma promessa de acampar.
Havia uma floresta a poucos quilômetros da capital, entre as montanhas, que era famosa por suas brumas densas que afastavam as crianças e parecia o local perfeito para aquele evento.
Lá chegando, Bruno tratou de mostrar logo suas habilidades de pescador e ensinou muitas coisas aos outros dois novatos. Alan era o típico palhaço que não levava nada a sério. Kátia sabia tudo sobre sobrevivência na floresta e Alex era o mais jovem do grupo, que só havia concordado em ir porque tinha uma queda por Kátia, a mais madura do grupo. Passaram o dia a pescar, acampar e se divertir. Quando anoiteceu Kátia esquentou uma panela de sopa na fogueira e resolveram aproveitar as chamas bruxelantes para contar histórias de terror. A certa altura todos estavam visivelmente desconfortáveis.
- Vocês já ouviram aquela da bruxa das brumas? Kátia começou a certa altura.
- Aconteceu há quase 200 anos exatamente nessa floresta aqui. Uma bruxa se disfarçava de vizinha bondosa e cozinhava bolos e doces para as pessoas da vila que era pouco distante da floresta. Certo dia uma sequência de desaparecimentos dos homens da vila começou, coincidentemente todos pareciam envolver as pessoas entrando na floresta. Os habitantes começaram a ficar nervosos e lentamente paranoicos até um dia em que alguém correu gritando insanamente pela vila que viu a velha senhora próxima ao poço da cidade parecendo derramar algo na água. Revoltados, os moradores pegaram em armas e invadiram a floresta para caçar a bruxa. Mas não contavam com uma coisa.
- C-com o quê? - Alex estava visivelmente mais nervoso que os demais
- As brumas que existem na floresta. Não são naturais, antigamente essa floresta não possuía bruma nenhuma, mas a bruxa a conjurou, usando o sangue e alma das pessoas que matou. A bruma não só escondia sua cabana como também trazia loucura a todos que a respirassem. No final da noite, perdidas na floresta, as pessoas que haviam vindo caçar a bruxa começaram a ouvir vozes e ver a velha, em sua loucura eles acabaram atacando e matando uns aos outros.
- Então a bruxa nunca foi pega?  
- É o que dizem. Nunca encontraram sua cabana. A lenda diz que ela ainda usa sua bruma para atrair e devorar pessoas tolas o bastante para entrarem na floresta.

Interrompendo o clima tenso Bruno riu. "Essa história de bruxa nunca poderia ser verdadeira". E Kátia rebateu "É a mais pura verdade, minha mãe me contou essa história várias vezes. Inclusive que o povo da cidade próxima esconde essa história por medo dela até hoje". A discussão ainda durou algum tempo.
Finalmente as histórias se esgotarem e todos continuaram a comer e tentar relaxar, mas Alex não se acalmou ao longo da noite, muito pelo contrário. Todos começaram a ficar preocupados quando ele começou a gritar histericamente apontando para o escuro.
- Vocês não viram isso se movendo? Ela estava bem ali! E-ela estava bem ali de braços abertos.
Alheio às risadas dos amigos, seus olhos estavam vidrados. “Não devíamos ter vindo aqui, n-nós não podíamos ter respirado essa bruma amaldiçoada.”
Mas ninguém havia visto nada.
- E-eu não estou mentindo, vi o rosto branco e enrugado dela entre aquelas árvores. E-eu não sabia da história, mas já tinha visto essa velha próxima ao poço quando era criança! Ela não me pegará, não vou deixar!
Urrando e atirando coisas na floresta, o jovem entrou em um surto violento. Os amigos não tiveram escolha a não ser amarrá-lo em uma cadeira ao lado do carro, amordaçado. Apenas seus olhos se reviravam psicoticamente.
“Fique quieto Alex, ou vou acabar tendo que amarrar você no carro com uma corda. O que deu em você? É o único dos meninos que surtou assim.”
A ameaça fez o jovem ficar quieto. Seus olhos agora estavam vidrados, estampados com puro terror. Ele continuou resmungando alguma coisa baixinho enquanto os demais de afastavam.
Havia algo estranho no ar. Os amigos começaram a ouvir uma movimentação estranha na floresta.
- D-devíamos investigar a origem disso de uma vez – Alan disse.
Não demorou muito e eles acabaram se perdendo do carro.
Inicialmente o mais calmo, Bruno passou a acreditar que havia algo de muito errado acontecendo. Não se ouvia animais na floresta. O ar estava pesado e o as árvores formavam sombras estranhas que pareciam dançar e rir. Depois de alguns minutos todo o grupo já estava aterrorizado vagando em meio à neblina.
Todos arregalaram os olhos quando viram uma cabana surgir pouco distante. E decidiram pedir por ajuda. Alan entrou primeiro na casa apenas para descobrir, completamente aterrorizado, punhados e punhados de grandes ossos espalhados pelas paredes. No escuro o rosto contorcido e perturbador de uma velha. Seu sorriso era sobrenaturalmente largo e ela olhava diretamente para ele com olhos fundos e negros.
Alan correu com cada músculo de seu corpo a gritar. Todos entraram em desespero e o acompanharam em pânico pela floresta, e não se separaram em momento nenhum.
Xingando e praguejando a plenos pulmões, Bruno viu o carro deles e quase chorou de alívio. Entraram nele mais rápido do que qualquer vez em suas vidas, dando a partida em completo pânico, sem olhar para trás.
Um nascer do sol vermelho se abriu após várias horas tensas. Os amigos começaram a se acalmar.
Repentinamente, Kátia levantou o rosto. Suas pupilas estavam completamente dilatadas.
- Bruno, onde está o Alex?
Bruno começou a falar lentamente com a face em puro horror.
- Eu amarrei ele com uma corda no carro... Como você mandou...
Atrás deles uma larga faixa vermelha havia surgido na estrada.

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