sábado, 24 de março de 2012

Banco de Trás

Essa história que vou contar realmente aconteceu comigo. Não sou um motorista ruim e não tenho medo algum de dirigir sozinho, mesmo em lugares que desconheço o caminho.

Mas existe algo que me perturba dentro do carro.

Se estiver com alguém não existe problema nenhum. O problema é se estou sozinho à noite.

Conheço muitas pessoas que compartilham essa minha angústia, quando estão sozinhas no carro não conseguem parar de olhar para o banco traseiro, na impressão que existe alguém ali, ou ficam apreensivos, olhando o espelho retrovisor, como se algo esperasse entre as sombras do banco dos passageiros.

Normalmente circulo à noite com minha namorada e alguns amigos, deixando eles em casa pelo caminho, sendo que minha namorada é a última casa da rua, depois faço o retorno e volto para casa.

Mas não naquela noite.

No caminho, a bagunça habitual dentro do carro. Deixei todo mundo, e quando deixei minha namorada o silêncio e a solidão tomaram conta do ambiente.

Nesse dia me fez falta o som do carro, que havia quebrado há pouco tempo, normalmente ele é a melhor opção para me distrair. Fiz o retorno com o carro a caminho de casa.

No caminho, porém, comecei a me sentir extremamente desconfortável. “Aquele velho medo de novo” não conseguia parar de pensar.

Respirei fundo, virei a cabeça e olhei para trás. Nada. Claro, por que haveria?

Após alguns momentos comecei a sentir como se estivesse sendo observado de novo. Dando pequenas olhadas no retrovisor, a única coisa que eu via no bando traseiro eram as luzes dos postes passando, intercaladas com a sombra dos espaços entre eles.

E a cabeça de uma mulher.

Tomei um susto tão violento que quase cometi um acidente. Entre os movimentos da luz e da sombra por um momento achei ter visto a cabeça de uma mulher, com longos cabelos negros sobre o rosto, mas era apenas o encosto da cabeça do passageiro.

Uma peça ilusória que minha mente havia me pregado no jogo de luz e sombra.

Mas é claro que depois daquilo minha imaginação não parava de imaginar as piores coisas.

Ria sozinho e tentava me distrair, mas não conseguia deixar de olhar de vez em quando para o espelho, encarando no escuro aquele contorno redondo do encosto, e rezando para não ver mais aquele rosto.

Depois do tempo que pareceu durar uma eternidade cheguei em casa, finalmente poderia sair daquele carro, finalmente poderia relaxar.

Sorri despreocupado quando parei em frente ao portão do condomínio.

A segurança do condomínio é reforçada, e eu abri a janela para o guarda me ver e liberar a passagem.

Mas o portão não abriu.

Olhei para o guarda na guarita, sorri e disse “Não está me reconhecendo, sou o morador do 101”

Ele franziu os olhos e mirou com a lanterna na janela

- Estou reconhecendo, mas quem é essa mulher atrás de você?

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